Posts Tagged ‘adolescência’

h1

Tudo o que é sólido pode derreter

12 maio, 2009

 

Há algumas semanas descobri uma super série na TV Cultura que é brasileiríssima e de cair o queixo.

Lembra um pouco “Diários de Adolescente”, também produzida e exibida pelo canal anos atrás, mas é melhor, porque além de tratar dos dramas e dúvidas naturais da idade faz analogia com grandes obras da literatura brasileira e universal, causando empatia, introduzindo e despertando o jovem para a leitura das mesmas. 

A premissa é genial e louvável e, é claro, tem quase TRAÇO de audiência, porque o povo tá mais interessado em Big Brother ou qualquer coisa do tipo do que numa série que usa a literatura para explicar os dramas humanos de uma forma inteligente, mas…enfim.

O próximo epísódio fará paralelo com Macário, de Álvares de Azevedo, e a protagonista, parece que se apaixonar por um gotiquinho numa baladinha obscura, além de conhecer os cemitérios de SP.

Não deixem de ver, se você tiver filhos adolescentes ou pré-adolescentes, assista com eles.

Pode render boas conversas sobre livros e sobre a vida.

Se quiser saber mais sobre a série, acesse: http://www.tvcultura.com.br/tudooqueesolido/index.php

h1

“From UK” é o caralho

27 março, 2009

Meu marido chegou em casa ontem contando o caso de um amigo que está passando o diabo com a filha adolescente de 14 anos.

É que, como se já não bastasse a menina ser Emo e encher o saco do pai com aquela baboseira toda de “eu-sou-revoltada-porque-não-sou-aceita-do-jeito que-sou” e mimimi, agora ela deu de “migrar” de tribo urbana e está gastando os tufos em apliques e maquiagem importada, adotando um discurso preconceituoso, irrealista, e xenófilo, tudo isso coroado com o uso compulsivo  do Orkut.

Aliás, o Orkut é um caso à parte. O pai, coitado, quase teve uma lipotimia quando se deparou com a descrição do perfil da filha. No quesito Orientação Sexual, a menina (menina, já que ela tem só 14 anos), lascou um desafiador “CURIOSA”, ao invés do trivial “heterossexual”.

Até aí, não há razão para tamanho alarde, afinal, infelizmente, hoje em dia é com essa idade que a galerinha anda descobrindo e testando a própria sexualidade. Nada que uma boa (e chata, e incômoda) conversa entre pai e filha não resolva, em conjunto com alguns calmantes receitados pelo terapeuta (do pai, obviamente).

 Mas o que me indignou, mas INDIGNOU MESMO, foi que a nova tribo adotada pela garota tem um nome absurdo, esdrúxulo e uma pseudo-filosofia mais nonsense e boçal ainda.

É uma tal de “From UK”.

Como eu disse acima é pura xenofilia, pois me parece que o a idéia central da coisa toda é que “Só no Reino Unido é que todos são felizes e aceitos como são”. Leiam a matéria do link pra ter uma idéia da parada toda…é…. revoltante.

Na boa, quando eu era adolescente (e ainda durante a juventude  e parte da vida adulta…e talvez até hj rsrs) eu fui gótica. Fui mesmo e, logo que os emos surgiram por aí, eu nunca havia aberto a boca para criticar os pobres coitados. Sentia que estaria sendo injusta, afinal, dizem que os góticos são os “pais dos emos (discordo, mas enfim, espero que tenham entendido meu ponto de vista). Adolescente é assim mesmo, procura um grupo de identificação e blábláblá, aquela besteirada toda que já sabemos de cor e que é pregada aos quatro ventos pela mídia, pela pedagogia e psicologia.

Mas em toda minha adolescência, com todas as besteiras que fiz, pentelhices, exageros e imaturidade natural da idade, eu me orgulho de algumas coisas.

E de nunca ter sido alienada e burra, são algumas dessas coisas.

From UK? From UK é o caralho! Esses adolescentes nunca estudaram história contemporânea mundial na vida? Não ficaram sabendo de alguns eventos cruciais da história como: época das navegações, Reforma Protestante, colonização britânica na Índia e na Austrália entre outros países (e as atrocidades cometidas pelos britânicos), Primeira e Segunda Grandes Guerras, Revolução Industrial etc, etc, etc?

From UK? Esse bando de burguesinhos burros alheios à tudo exceto ao próprio umbigo pensam que vivem onde?

Sabe o que eu, no lugar desse pai que está cortando um 12 com essa patricinha mimada, faria?

Pegaria essa menina pela mão e a levaria, com seus apliques, delineadores importados, vestidinhos alternativos e cabecinha oca para passar uma semana NA FAVELA.

Na favela da Rocinha.

Eu mostraria pra ela o país onde ela nasceu e vive. E suas belezas, mas PRINCIPALMENTE suas dificuldades. E a faria sentir vergonha de si mesma.

E depois dava uma bela de uma surra de chinelo na BUNDA “From UK”, dela.

Velha Escola, sem medo de ser feliz. Apanhei na bunda a vida toda e nem por isso sou uma serial killer.

Eu corro o risco de parecer uma velha decrépita ao dizer isso, mas essa juventude É UMA MERDA.

Eu não me lembro da minha adolescência ter sido tão fútil, tão omissa, tão idiotizada, tão burra, tão alienada, tão…afe.

Sei lá…fico por aqui pq nem sei mais o que dizer.

A unica coisa que me vem à cabeça no momento é:

God save the queen her fascist regime
It made you a moron a potential h bomb !

God save the queen she aint no human being
There is no future in englands dreaming

Dont be told what you want dont be told what you need
Theres no future no future no future for you

(God Save the Queen – The Sex Pistols)

h1

Eu me lembro

27 fevereiro, 2009

Quando me lembro da gente, tudo rescende à adolescência.

Nós, debruçadas na sacada da Galeria, fumando, tirando sarro das roupas das patricinhas e maldizendo a vida por puro esporte…ou porque éramos mais criativas e engraçadas, ferinas, desdenhando de algo do que elogiando, talvez. Exaltar (e praticar) virtudes nunca foi o nosso forte…

Nossos problemas iam do vestibular a namorados escrotos que não sabiam transar, de flertes inconsequentes capazes de colocar nossas poucas amizades femininas em risco à dificuldade em guardar dinheiro para comprar a próxima coletânea do X-Mal Deutshland, passando por nossos pais, a política, esse país, essa vida besta, a falta de perspectivas, a revolta…  essa espiral descendente de pirações, roubadas e experimentações que tanto testou nossos limites, quanto explicitou nossas fragilidades….e nos ensinou, e nos  moldou… e fez de nós as mulheres que somos hoje.

Seja isso algo bom ou ruim….

Me lembro de como, apesar de tudo ou talvez por isso tudo, o riso era fácil e de como todo sábado à noite sempre guardava a próxima “melhor festa de nossas vidas” que, no final, era igual a qualquer outra festa que custumávamos frequentar: vinho barato, bizarrices, sexo, drogas e rock’n roll, a trindade infame padroeira dos condenados à prisão e ao peso da própria existência.

Me lembro de nossos corpos girando no ar, em êxtase, alheios a tudo e a todos, longe de nós mesmas e da realidade tediosa que nos cercava. Dervixes sombrios capazes de devastar qualquer resquício de adolescência saudável, feliz e completa.

Corpos negros, que, negros que eram, absorviam completamente qualquer tipo de radiação que neles incidia.

Tão bom saber que você me completava (completa). E lia minha mente, e sentia essa fome. Tão bom saber que “você terminava onde eu começo completamente pelo lado do avesso”. E sentíamos tudo, juntas.

Éramos tão felizes em nossa própria tragédia!

E agora, graduadas, na vida e nas artes, perfeitamente inseridas nessa tal de sociedade que tanto xíngávamos e que teve nosso mais profundo desprezo e ódio durante tanto tempo (e ainda os tem, de certa forma, em certos assuntos), atarefadas, responsáveis, cidadãs de bem, com carteira de trabalho assinada e comprovante de residência, ora veja…

Simplesmente não conseguimos mais nos encontrar.

Somos tão trágicas em nossa própria felicidade!

E o riso não é mais tão fácil, na verdade precisa ser cultivado sob o risco de se extinguir, e o amanhã não guarda mais a “melhor festa do resto de nossas vidas”, aliás,  fugimos delas e preferimos pétite comitèes, poucos, bons e perenes amigos, não mais com vinho barato, mas com garrafas que custam muito mais do que sonhávamos jamais poder pagar…e o sexo? ah sim, esse continua, mas não mais em festas…drogas? bem, paramos porque comprometem nosso rendimento “na firma” e o salário no fim do mês …

da torpe trindade só sobrou o rock’n roll cultivado agora nesses malditos Ipods, a válvula de escape aceita pelo coletivo,  que possui a assombrosa capacidade de emprestar uma trilha sonora à nossa vida, tornando-a malditamente lírica e saudosista…causando rompantes… e textos como esse.

Simplesmente porque ouvi uma música que me lembrou de nossa adolescência, enquanto passava pelo local onde constumávamos nos encontrar…e o tempo parou.

Tenho saudades de você.

(ouvindo – I’ll make it clear – Teenage Fanclub)